Pousei a caneta no tabuleiro da mesa, fiquei a olhar, para a caneta com certeza.
Tirei a dita do tabuleiro. Segurei nela como numa espada.
Enterrei-a dentro da chávena de café, ainda quente. Bebi-o todo de uma só vez há trinta segundos ou meio minuto. Tirei-a da chávena. Escondi-a no bolso. Mas ela estava lá, ela estava ali, ela estava aqui no fundo bolso direito com grãozinhos de areia no canto esquerdo. Tirei-a do bolso. Pus-me a observa-la. Rodopiei-a. Disse-me baixinho que não queria mais ser café, nem brincar as escondidas. Era algo (às vezes pergunto-me, como é que o feminino de tal palavra, pode ser uma anti celulítico, como é que o masculino e o feminino de "algo" podem chegar a pontos tão distintos de caracterização...) sério. Agora era uma bailarina. O tabuleiro era o palco, os grãos de açucar as senhoras (uma delas era a mãe da bailarina) que assistiam ao bailado. As borras do café eram os senhores, uma dessas marcas deixadas na chávena era o pai da bailarina que a via escondido entre as outras manchas. Peguei na caneta, e ela deixou parte de si.
Aqui.
Rita
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Rita, esse texto ia-me fazendo chorar por razões imperceptíveis a olho nú.
ResponderEliminar*